Esse montante sugere que até 27% dos recursos enviados aos beneficiários podem ter sido utilizados em jogatinas.
O Tribunal de Contas da União (TCU) divulgou um relatório que revela indícios do uso inadequado de CPFs de beneficiários do Bolsa Família em apostas online. Em janeiro deste ano, aproximadamente R$ 3,7 bilhões das contas de beneficiários foram transferidos para sites de apostas.
Esse montante sugere que até 27% dos recursos enviados aos beneficiários podem ter sido utilizados em jogatinas, embora a maior parte não provenha diretamente do Bolsa Família, visto que 83% dos beneficiários possuem outras fontes de renda.
O TCU também identificou uma alta concentração em apostas, com apenas 4,4% das famílias que apostaram sendo responsáveis por 80% do total transferido. Isso levanta suspeitas de que CPFs de beneficiários estejam sendo utilizados de forma indevida por terceiros, possivelmente para lavagem de dinheiro ou ocultação de rendimentos ilícitos, como destacou o relator do processo, ministro Jhonatan de Jesus.
As movimentações consideradas suspeitas foram encaminhadas ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), à Receita Federal e ao Ministério Público Federal para investigação.
A mediana dos gastos das famílias foi de R$ 100 por pessoa, mas há casos extremos, como uma única família que transferiu R$ 2,1 milhões em um mês. Em janeiro de 2025, das 20,3 milhões de famílias participantes do programa, 4,4 milhões realizaram transferências para casas de apostas, o que corresponde a cerca de 22% do total de beneficiários.
Dentro desse grupo, 889 mil famílias foram responsáveis por 78% do total movimentado, representando apenas 4,37% do total de famílias atendidas pelo programa.
Algumas movimentações foram avaliadas como incompatíveis com a renda declarada. O tribunal também identificou casos em que transferências chegaram até R$ 2 milhões, além de 663 famílias que enviaram valores entre R$ 100 mil e R$ 1,4 milhão.
Apesar das quantias elevadas, o estudo técnico ressalta que aproximadamente 85% dos valores apostados retornam aos jogadores, conforme estimativas do Banco Central. Se levarmos em conta as previsões da Secretaria de Prêmios e Apostas, o retorno pode chegar a 93-94%.
Os auditores estimam que pelo menos R$ 2,09 bilhões das transferências analisadas não podem ser considerados recursos do benefício. Dessa forma, o impacto real sobre os recursos do Bolsa Família foi estimado em R$ 162 milhões, o que corresponde a 1,1% dos gastos do programa em dezembro de 2023.
Os dados também apontam para possíveis erros de inclusão ou uso indevido de CPFs em cerca de 267 mil famílias que movimentaram valores acima de R$ 2.400, incompatíveis com o perfil de renda do programa.
Embora a maioria das famílias que apostaram tenha comprometido menos de 2% de sua renda mensal, o TCU alerta que uma parte desse grupo se encontra endividada.
O TCU determinou que o MDS (Ministério do Desenvolvimento Social) e o Banco Central apresentem, em até 90 dias, um plano para identificar e combater fraudes no programa.
