
O empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, amplamente conhecido como “Careca do INSS”, se tornou uma figura central em um grande escândalo de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), relacionado a descontos indevidos em aposentadorias. Recentemente, ele se encontrou com o senador Weverton Rocha (PDT-MA) para discutir a legalização da importação de produtos derivados da cannabis.
Este esquema de fraudes tem um impacto alarmante, afetando aproximadamente quatro milhões de pessoas e movimentando cerca de R$ 6 bilhões. Antunes possui um patrimônio significativo, incluindo uma luxuosa residência avaliada em R$ 3,3 milhões. A Polícia Federal está atualmente investigando suas ligações com diversas entidades e empresas.

Antônio Carlos, que goza de notoriedade nos círculos políticos de Brasília, teve contato direto com Weverton Rocha, um aliado do ex-ministro da Previdência, Carlos Lupi. Os dois se reuniram tanto no Senado, quanto em um evento social na residência do senador, durante um costelão (um tipo de churrasco com costela).
Os encontros já foram confirmados tanto por fontes próximas ao senador quanto pela assessoria dele. “Conheci Antônio Carlos em um costelão em minha casa, onde ele foi apresentado por um convidado. O empresário se apresentou como representante do setor farmacêutico”, revelou Weverton em uma nota enviada ao GLOBO.
O senador mencionou ainda que recebeu o Careca do INSS em seu gabinete pelo menos três vezes para discutir a proposta legislativa sobre a legalização da importação de produtos à base de cannabis para fins medicinais. Embora tenha tentado localizar Antunes por meio de seu advogado, ele não se manifestou.
Weverton, que não está sob investigação, ocupa o cargo de vice-líder do governo no Senado e, devido à sua influência, foi convidado a participar de uma comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma recente viagem à China. Anteriormente, o senador foi assessor de Carlos Lupi quando ele estava à frente do Ministério do Trabalho, cargo que Lupi deixou em razão de suspeitas de irregularidades financeiras, as quais o mesmo nega.
O Careca do INSS tornou-se uma entidade emblemática dentro do esquema de fraudes que resultou em descontos indevidos em aposentadorias e pensões. Em abril deste ano, Antunes e outros suspeitos foram alvo de uma operação da Polícia Federal, que investiga indícios de desvio de recursos. Estima-se que até quatro milhões de pessoas possam ter sido prejudicadas pela fraude, que movimentou bilhões.
Conforme a investigação da PF, o Careca do INSS é proprietário de um extenso portfólio de empresas em diversos setores. Entre os detalhes levantados, está o fato de que ele e seus associados teriam recebido R$ 53,5 milhões provenientes de entidades sindicais e empresas ligadas a essas associações.
Antunes também possui uma frota de veículos de luxo e imóveis localizados em São Paulo e Brasília, incluindo uma residência no Lago Sul, um dos bairros mais nobres da capital, onde adquiriu uma propriedade de R$ 3,3 milhões em uma transação à vista, conforme os documentos investigativos.
Além disso, ele aparece como representante legal de uma empresa registrada nas Ilhas Virgens Britânicas, o que levanta suspeitas sobre possíveis tentativas de proteger patrimônio adquirido de forma ilícita, segundo a Polícia Federal.
A defesa de Antunes, que abriu mão de seus advogados na última sexta-feira, reiterou a confiança na comprovação da inocência do empresário ao longo do processo: “A defesa acredita plenamente na apuração dos fatos e na atuação das instituições do Estado Democrático de Direito. A inocência de Antonio será devidamente demonstrada ao longo do processo”, declarou a equipe de defesa.
Além do Careca do INSS, Weverton Rocha também teve relacionamentos com André Fidélis, ex-diretor de Benefícios do INSS, outro nome ligado ao esquema. Ele procurava apoio no Congresso para ser apoiado na cúpula do instituto. Weverton afirmou: “Fui apoiador do André Fidélis por ser um funcionário de carreira, que apresentou um excelente currículo na Previdência”.
A investigação da Polícia Federal revelou que Fidélis foi afastado do cargo no ano passado após o início das suspeitas sobre os descontos indevidos nas aposentadorias. De acordo com documentos, pessoas e empresas associadas a ele receberam R$ 5,1 milhões de intermediárias ligadas a associações do setor.
Por fim, Fidélis negou que Weverton tenha feito indicação política para seu cargo, afirmando que sua nomeação ocorreu por ser um servidor de carreira do INSS. Ele já havia ocupado a posição de superintendente e, segundo o ex-diretor, sua função era acabar com a fila de espera no atendimento, tarefa que foi bem aceita por Lupi.
Outra conexão identificada pela PF entre Fidélis e o Careca do INSS se dá através do filho do ex-diretor, o advogado Eric Fidélis. O rastreamento financeiro realizado apontou que pelo menos R$ 1,5 milhão foi transferido para o escritório de Eric, que nega qualquer tipo de irregularidade.
De acordo com a Polícia Federal, esses repasses reforçam as suspeitas de irregularidades financeiras. Isso, somado às relações com as entidades associativas, contribui para aumentar as incertezas sobre a destinação do dinheiro.
_(Colaborou Ivan Martínez-Vargas)_





